“AMOR TEM PRAZO DE VALIDADE?”
por Maria Paquelet
por Maria Paquelet
Um dia comum.
Toca o celular.
Alguém se identifica e pergunta: “O amor tem prazo de validade?”
Paro... Penso... Ando... Penso novamente... Penso tanto e nunca havia pensado nisso! Penso em amores... Nos vividos, nos não vividos, nos conhecidos, nos dos jornais, nos dos poemas, em todos os amores lembrados. Esta é uma daquelas questões que a gente vive, e nunca pensa, e agora tenho o desafio de respondê-la!
Recorro a procedimentos pedagógicos. Chego à sala de aula, curso de graduação, último período. Cerca de quarenta alunos e a expectativa do que trabalharemos. Olho e, em voz alta, repito a pergunta que me fizeram dias antes: “O amor tem prazo de validade?”
Desconforto... Sussurros... Risos... Sentimentos afloram.
Papel em mãos e respostas, diversas e contraditórias.
“Eu acho que sim, mas...”
“Eu acho que não, mas...”
Aqueles que acham que sim, que há um prazo de validade determinado, demonstram ter vivido um desafeto, mas ainda mantêm a esperança e o sonho de um próximo amor e que este será diferente.
Quem acha que não há prazo, acredita que pode amar cada vez mais e sempre, mas que é necessário cuidar e aproveitar cada minuto desse amor. Se bem conservado, pode durar uma eternidade.
A contradição no que se refere ao amor, e a sua durabilidade, também atinge os poetas. Quem de nós nunca saboreou Neruda vivendo seus amores? Amou gente, bichos, paisagens, ruas, lugares. Muda o objeto, mas continua amando. Amando e contradizendo. Num poema diz que “é tão curto o amor e é tão longo o esquecimento” e em outro que o amor é “eterno como é a natureza”.
Depois de pensar, de refletir, chego à conclusão de que, para esta pergunta, não há resposta.
O amor depende do querer, do viver. Depende de quem ama, de quem é amado. Depende do contexto, do momento. O amor independe de gênero, sexo ou orientação sexual. Independe de idade. Independe de cor da pele, etnia ou orientação religiosa.
E pensando no amor, relembro como ele acontece...
A gente se conhece, se aproxima. Criamos o vínculo, sem abrir mão do nosso eu. A troca se intensifica. A confiança é criada. Expectativas nem sempre são satisfeitas, mas o estar junto satisfaz... As qualidades justificam, aborrecimentos são superados. Sonhos são vividos... Nos sentimos construindo algo em comum. A cada dia uma nova possibilidade, um novo modo de expressar sentimentos, descobertas prazerosas... Um sem número de tentativas, mas que são sempre para agradar, sem perder o próprio ritmo. Cultivando a vida a dois, cuidando do outro e de si, limites são definidos.
Aprofundando a relação, os afetos incluem um gama de emoções. Não se pode descuidar de respeitar o outro, seus sentimentos e pensamentos e de lutar pelo mesmo tratamento. Tratar com delicadeza não impede de ser firme e decidido. A forma de tratar implica na manutenção do clima de confiança e afeto.
A relação afetiva não esgota seus mistérios...
O amor não nasce com data para acabar, ele nasce para ser eterno. Se será ou não, não saberemos se não o vivermos.
Para Rubem Alves, “o amor é a vida acontecendo no momento: sem passado, sem futuro, presente puro, eternidade numa bolha de sabão”.
A vida exige decisão. O querer impõe limites. O saber nos dita regras. Vivendo e sobrevivendo, o corpo cobra o desejo. Mas, quando o amor encontramos, o ontem fica pra trás. Vivemos a dádiva do presente, pois o amanhã virá ou não. E nesse momento será, como diria Vinícius, “eterno enquanto dure”.
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